sábado, 18 de junho de 2011

nenhum pretérito é imperfeito

Eu tinha 14 anos quando comecei a escrever no blog. Era uma menina Clarisse. Forte. Não nego que apaguei alguns escritos que postei, porque eles me lembravam coisas que eu prefiro esquecer, e que podiam passar um sentimento ruim a quem lesse. Mas apesar de forte, eu tinha uma capacidade incrível de ser sutil. Talvez alguém que lesse um texto escrito a sangue pensasse que era apenas uma tinta vermelha. Ou marrom-avermelhada - algumas páginas de um caderno antigo não me deixam mentir. Aos 15, dei o meu primeiro beijo e suspirei pela primeira vez. Era uma sensação tão inédita que eu pensava que jamais sentiria aquilo por outra pessoa. Não durou mais que dois meses. Comecei a ler sobre sexo. Descobri que não era algo tão absurdamente restrito a cônjuges ou a pessoas despudoradas como minha família me fazia acreditar. Resolvi estudar mais. Consegui atingir minha meta de obter nota máxima pelo menos uma vez em cada matéria. Vi fadas. Aprendi maneiras antes nunca exploradas de declarar o meu amor: pelo mundo, pelas pessoas, por mim mesma. Amei mais à minha família. Mudei o corte de cabelo aos 16. Tive uma franja. Na mesma semana, o meu pai morreu. Morte súbita. E eu cantei para a morte. Esperei por ela. Vi fadas, dessa vez durante uma aula de Literatura. Reaprendi a viver. Fiquei mais forte. Redescobri aquela sensação: comecei a suspirar novamente. Começo é uma boa palavra para definir essa fase. Comecei também a entender muitas coisas, inclusive o que acontece quando as pessoas morrem. Entendi que mais importante do que fazer promessas a alguém, é ser o melhor possível para alguém, enquanto você pode. Comecei a usar soutien com mais frequência. Comecei a me arriscar mais. A pensar mais em mim. A ser menos dependente de minha mãe - embora até hoje eu seja muito dependente dela. Comecei a me descobrir mulher, usar maquiagem, fazer sobrancelhas, unhas, usar salto alto, vestir lingerie. Três palavras para os meus 17 anos: ousar, permitir e decidir. Eu escolhi fazer Física (para ser uma astrofísica e entender sobre coisas que eu admiro), Jornalismo (simplesmente porque me parecia prazeroso), Química (queria ser alquimista), Medicina Veterinária (enquanto eu pensava que o seu papel era apenas "cuidar" de animais), Biologia Marinha (mergulhar, mergulhar, ir mergulhar na Austrália), Psicologia (e fazer jus à alcunha de "psicóloga" dada pelos amigos), mil coisas. (Até hoje eu tenho vontade de fazer mil coisas). Escolhi não fazer nada. Resolvi que não ia prestar vestibular enquanto eu não tivesse certeza do que eu queria ser. Não contei a ninguém, porque eu era pressionada o tempo todo por todo mundo: familiares, amigos, colegas, professores, desconhecidos. Fiquei despreocupada e a falta de preocupação abriu minha mente: nasci para ser uma administradora. Foi uma decisão tardia. Acabei sendo aprovada em cursos diferentes: Bacharelado Interdisciplinar em Saúde na UFBA, Comunicação Social na UFRB, Administração na UNIVASF e na UESC. Quase me inscrevi para Gastronomia na UFPE, e ainda tenho um pouco de ressentimento por não ter feito isso. Também quase me inscrevi para Cinema na UFRB - uma possibilidade a que eu me entregaria fácil, fácil. Não me arrependo do que escolhi. Administração combina comigo e com minhas ânsias de aquariana. Virei empresária júnior, graças a Deus. Passei a me dedicar mais à minha vida profissional. Às vezes fico sem tempo. Às vezes os meus 14 anos parecem tão tão distantes. Eu já tenho 19, caminhando para os 20 anos. Ainda brinco de coisinhas de menina com minhas primas pequenas - tipo salão de beleza ou bonecas de papel. Dou risada de piadas infantis. "O Menino Maluquinho" ainda é um dos meus livros preferidos. Chamo minha mãe de "mamãe". Tomo danoninho.  Sou uma criança. Ao mesmo tempo em que sou diretora de Marketing de uma empresa de consultoria empresarial. Crio estratégias, zelo por uma cultura organizacional, executo ações que visam atingir a um objetivo; discuto e delibero. Gerencio atividades, lidero uma equipe. Sou uma adulta. E não há nada que possa me definir. Prefiro dizer que sou aquariana - o que, por si só, já deixa explícito que eu sou todas, todas as coisas, alternando-se momentos, situações, lugares e pessoas envolvidas. Sou o que eu me permitir ser.



 

2 comentários:

Rita Loureiro Graça disse...

Somos bem aquarianas mesmo. Que bonito isso, é bom quando nos fazemos uma revisão, deixamos em paz aquilo que nos teve...e seguimos em frente com um brilho no olhar. Sinceridade

Unknown disse...

Agora eu percebo como você é independente, mais até do que você pensa. Você é doce, e compreende os outros, é clara, inteligente e irremediavelmente autentica (acho que isso é o que você é mais, de tudo). Te amo, bichinho. Gostaria de ser mais honesto comigo mesmo como você.