sexta-feira, 2 de abril de 2010

borboletas

Início do século XX. Não era um bom período para ser um operário. As idéias de Frederick Taylor vigoravam nas fábricas. Cada funcionário era uma peça que deveria render lucros à empresa através da alta produtividade. Sem direitos. Sem reconhecimento. 12 horas de trabalho diário.

- Eu prefiro as borboletas mais claras. E os líquenes.

Manchester, Inglaterra. As borboletas Biston betularia podiam ser claras ou escuras. Antes da poluição causada pelo uso da máquina a vapor, as claras se camuflavam nos troncos das árvores e entre os líquenes. As escuras eram facilmente capturadas pelos predadores. O mundo dá voltas até mesmo para as borboletas. Com a Revolução Industrial, os líquenes se extinguiram, a fuligem recobriu os troncos das árvores e eram as borboletas claras que dançavam agora. Talvez um bom período para ser uma Biston Betularia escura.

- Esqueça.

- Esquecer o quê?

- As borboletas claras, os líquenes. Os casacos de lã que eu costurava e te dava de presente no seu aniversário. O tempo que tínhamos para respirar ar puro. O ar puro. As viagens que sempre fazíamos. O seu braço direito que aquela engrenagem invalidou.

- O que quer dizer com isso?

- Viva a sua nova vida e aceite as mudanças. É hora de aprender a apreciar as borboletas escuras.

- Eu nunca vou apreciar a natureza de luto.

- Que se dane você e sua nostalgia.

- Não chore. E me desculpe por ser um marido inválido que não pode nem te abraçar direito.


3 comentários:

binhobrill disse...

A humanidade e suas ré-voluções.







Como vc tem sido, menina?

Dayane Abreu disse...

Eu tenho sido o que posso.

Anônimo disse...

que texto forte.
final...sem palavras

;