quinta-feira, 29 de julho de 2010

gentileza


Eu entrei no ônibus cheio carregando um livro na mão e dois na mochila. Tudo começou com a minha idéia de levar uns livros pra casa – e depois ter que ir à biblioteca da universidade a quilômetros da minha casa só para devolvê-los. A moça olhou pra mim. Depois olhou pro livro na minha mão. Depois fingiu que não viu nada.

Isso não me causa indignação, revolta, raiva. Não existe nenhuma regra que a obrigue a zelar pelo bem estar dos outros passageiros, não é? Mas isso me causa tristeza.

Uma coisa que minha mãe me ensinou é que as minhas atitudes fazem de mim uma pessoa educada ou não. Por isso eu digo “bom dia” ao motorista. Eu não faço isso porque espero que ele me responda “bom dia” de volta. Esse discurso de “parei de ser educado(a) porque ele(a) não me respondia” me lembra o Código de Hamurabi, um conjunto de leis criado há mais de mil anos antes de Cristo que já está ultrapassado há muito tempo. “Olho por olho, dente por dente”. É isso que eu enxergo quando vejo pessoas mudando de atitude por causa das outras.

Eu tento não culpar a moça sentada. Imagino que ela deva estar com uma dor infernal no joelho e lamentou não poder segurar o livro pra mim. Não estou querendo bancar a santa, mas se tem uma coisa que me deixa feliz é gentileza e se tem uma coisa que me deixa triste é falta de gentileza. Então procuro explicações.

Porque gentileza é tão bom. É uma coisa simples, boba, que não vai te fazer falta nem vai fazer com que você se arrependa. E muitas vezes, pra ser gentil, não é preciso esforço algum. Mas aos olhos de outra pessoa, um gesto de gentileza pode ser muito significativo.

Fico muito triste ao ver um idoso indo em pé de Ilhéus ao Salobrinho porque tem pessoas sentadas nos bancos reservados que não se importam. Fico muito triste quando fazem cara feia a uma mulher grávida que solicita o atendimento preferencial. Fico triste quando o porteiro não responde o meu bom dia. Sinto até vontade de desistir.

Mas aí chegam correspondências, ganho um CD de uma pessoa que nunca tinha visto na vida, leio um comentário em algum texto meu (bem meu mesmo) do blog, recebo elogios. Alguém faz uma escolha menos favorável só por causa de mim. Alguém que eu não conheço sorri. Pra mim.

A única coisa que não me faz desistir não é a minha consciência. Não é a minha reputação. Nem as minhas forças, meus sentimentos.

A única coisa que não me faz desistir é saber que não estou sozinha. Muito obrigada por tudo.


3 comentários:

Anônimo disse...

Se há algo que eu chamaria de belo na vida é isso de gentileza...

teo disse...

E, até pra ser gentil, é necessário ser delicado.
E para ser grato, é necessário ser gentil também.

Vanessa disse...

Hã hã. You are not alone!

=)